terça-feira, 18 de junho de 2013

Já posso me aposentar!


Quando eu dizia que a grande mídia te enganava, voce dizia que te informava.
Quando eu dizia que o povo era sábio, voce dizia que ele era ignorante.
Hoje voce diz que tem orgulho do Brasil. Eu te digo: Essa é a nossa diferença. Eu sempre me orgulhei.
Agora te digo: Cuida para não virares "massa de manobra" ou "boi de piranha". Já fizeram isso antes e, deu no que deu.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Há que se preocupar





A lei da sobrevivência me ensinou a aceitar muita coisa.
Minha adolescência foi de tempos difíceis, mas, dentro do possível, agradáveis.
Faltava muita coisa e ao mesmo tempo não faltava nada. O que faltava era compensado com doses de criatividade. Uma coisa sempre sobrou, o respeito pelo outro, a educação.
Do lado de fora de casa, onde a briga é mais injusta, essa criatividade teve que ser explorada ao seu máximo. Os adolescentes são cruéis quando querem. Comigo não foi diferente.
Como sempre fui atento ao que estava a minha volta, pouco me incomodava o que vinha de fora. Passar por idiota, às vezes, é mais sensato do que ser esperto.
Dava para tirar de letra.
Meus pais se separaram eu tinha uns seis anos. Pouco convivi com meu pai até a adolescência, quando passei a procurá-lo. Ia ao seu encontro, raramente ele veio ao meu.
Meu pai funcionário público, lotado no antigo IAPM, onde exercia cargo de destaque. Ganhava razoavelmente bem. Conseqüentemente, a pensão que minha mãe recebia, dava bem para vivermos.
Seu posicionamento político sempre foi à esquerda. Foi da UNE quando na faculdade, chegou a se candidatar a vereador, quando morava na Bahia. Por força da função viajava sempre.
Em 1964, quando do Golpe Militar, ele se encontrava em Manaus.
Foi preso, perdeu o emprego. Ficou dois anos detido no Rio de Janeiro. Durante o período que esteve preso eu o visitava sempre. Como tinha curso superior, cumpriu seu tempo em um quartel da PM. Após esses dois anos foi julgado e inocentado. Tentou recuperar seu emprego, mas nunca o conseguiu. Não teve Juiz com peito suficiente para enfrentar a Ditadura e devolver-lhe o que era de direito, já que era inocente das acusações.
A partir de sua demissão, começou nosso calvário. Ficou sem emprego, ficamos sem a pensão.
Para nos sustentar, minha mãe, vendia Avon. Imagina, naquela época, alguém sustentando dois filhos vendendo produtos de beleza.
Faltava muita coisa menos carinho, dedicação, amor e criatividade.
Vivíamos em um mundo de classe média alta. Tínhamos padrão de classe média alta. De repente, tudo acaba.
De volta lá em cima.
Como um garoto sem grana vive no meio de gente com dinheiro? Dá seu jeito.
Usa a calça comprida da irmã mais velha, reformada pela mãe, guarda sua melhor camisa para o domingo e as festinhas. Daí o meu apelido Camisa.
Lembram? Os adolescentes são cruéis quando querem?
Nunca me importei com apelido. Até hoje me chamam por ele. Virou sobrenome.
Essa enrolação toda tem um objetivo, falar do que está acontecendo agora.
Essa noite fiquei acordado, durante bom tempo, pensando no que está ocorrendo nas ruas. Viajei no tempo e me assustei com a semelhança de tempos passados. Muitos hão de dizer que os tempos são outros, que não existe mais espaço para golpes, ditaduras. Será? Não sei se minha experiência de adolescente está falando mais alto, não sei se estou deixando a teoria da conspiração me dominar, mas, o fato é que me assustou.
A falta de perspectiva da direita mais radical passar ao poder, a falta de liderança na oposição, a falta de programa que seduza, pode sim, levar a uma radicalização. É histórico.
Em 64 a justificativa foi acabar com a corrupção e eliminar o perigo comunista.
Não aconteceu nenhuma coisa nem outra.
Pinço, para ilustrar, trecho de um livro:

“É fundamental levar em conta o apreço e apego de Geisel à ordem e à hierarquia. A verdade é que o sistema militar havia perdido o controle sobre o aparelho de segurança e de informação. Era preciso reprimir a repressão, conter seus excessos, enquadrá-la na hierarquia e disciplina militar. Impor-lhe a cadeia de comando. Para ele, a revolução envelhecera, estava na contramão da história. Mais que isso: desfigurara-se, deteriorara-se. A censura, travando a fiscalização da imprensa, facilitava a corrupção, inclusive de militares e ex-militares. Era essa a avaliação de Geisel, segundo o almirante Faria Lima: "Ele se instalou lá naquele Palácio do antigo Ministério da Agricultura para trabalhar na organização do seu programa de governo. Na verdade, ele já estava se preparando há muito tempo. Ele me disse, naquela ocasião que ia fazer a abertura. E eu disse a ele: 'O senhor acha que é a hora para fazer a abertura?' Ele me respondeu: 'É. Porque a corrupção nas Forças Armadas está tão grande, que a única solução para o Brasil é abertura.'" Por outro lado, a repressão política criara um poder militar paralelo, autônomo, enfraquecendo os comandos, prejudicando a hierarquia e a disciplina, ameaçando a ordem dentro das próprias Forças Armadas. A concentração excessiva de poder no governo, se por um lado significava força, por outro expunha o governante. E a tão temida ameaça comunista mostrava-se cada vez mais improvável, distante, descartada.”

História indiscreta da ditadura e da abertura-Brasil: 1964-1985 - Ronaldo Costa e Couto (1999, págs. 150 a 151),  (Editora Record) 

Hoje estão tentando levantar a mesma hipótese do pré-64. Basta olhar os jornais, dar uma passeada pelas redes sociais que veremos o assanhamento dos radicais.
Provavelmente dirão que naquela época não havia tanta corrupção quanto hoje. Será? A imprensa era “cabrestada”, a censura estava em pleno vigor, o medo impedia qualquer manifestação.
Os historiadores negam que não houvesse corrupção, Geisel também. Alguns dizem que foi maior até do que temos hoje. Alguns marcaram essa época. Não importa. Maior ou menor, nunca deixou de existir.

O jornalista e escritor J. Carlos de Assis escreveu três livros, em 1984, mostrando os escândalos desse período. Um deles, “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/83”, revela essa corrupção. Alguns capítulos: Caso Halles, Caso BUC, Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin, Caso TAA. Cada “caso” é um capítulo.

Minha grande preocupação é onde iremos chegar.
Os vinte centavos não são o verdadeiro motivo dessa manifestação. A insatisfação com o governo, também não.
Tem algo mais no ar, além dos aviões de carreira.