quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa

A Constituição Federal consagra como direito fundamental a liberdade de religião, afirmando que o Brasil é um país laico. Cabe ao Estado proteger e garantir o livre exercício de toda e qualquer religião.

Não devemos esquecer que o conceito de religião é individual. O que para uns é religião, para outros pode ser considerado superstição, crendice ou qualquer outra coisa.

O assunto do momento, religião / aborto, deve ser encarado de uma forma mais consciente e racional do que a que vem sendo feito.

O indivíduo deve ser respeitado em suas crenças, em seus conceitos em suas decisões, o Estado deve apenas ser o regulador dos excessos. Não cabe a ele determinar, baseado na religião, o que deve ou não ser feito.

Sou contra o aborto. Mas, sou a favor de que ele seja descriminalizado, de que seja tratado como um caso de saúde pública, que é.

O fato de que, ao abortar, está se incorrendo em crime previsto em lei e, que pode acarretar em até três anos de reclusão, não mudou em nada o número de abortos realizados no País. Ao contrário, ele continua crescendo e, junto a isso, o número de curetagens e óbitos entre as mulheres que o realizam. Isso porque o fazem em condições precárias, sem atendimento competente, muitas das vezes sozinha.

A justificativa de que ao abortar se está tirando uma vida pode ser justa e real, não vou discutí-la. O que me faz pensar é que: e as mortes resultantes desses procedimentos em clínicas de fundo de quintal, não seriam elas também um crime às vistas de Deus?

Seria hipocrisia pensar que, por ser crime previsto em lei, esses procedimentos estariam extintos.

Seria hipocrisia maior ainda, achar que, pelo fato de o Presidente da República ser contra o aborto, todas as mulheres deixariam essa prática.

Cabe aos mentores religiosos passar a seus fiéis suas crenças e os dogmas de suas religiões. Cabe aos verdadeiros fiéis, acatar estes dogmas e cumpri-los. Independentemente das leis dos homens.

Àqueles que não têm o mesmo pensamento, àqueles que não comungam das mesmas opiniões, o direito de defendê-los e exerce-los com a mesma intensidade das que defendem suas religiões e pensamentos.

Ao governo cabe o dever de dar condições para que cada cidadão haja de acordo com sua consciência, evitando que ao fazê-lo, não ultrapasse os limites dos direitos do outro.

Uma coisa é acreditar em algo, outra coisa é obrigar que todos comunguem com suas crenças.

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