A posse do Ministro Joaquim Barbosa, como presidente do STF,
levou à mídia o fato de ser o “primeiro negro a ocupar o cargo”.
Pergunto eu, e daí? O que tem isso demais? Ele é diferente, alienígena?
Não. É um ser homem como tantos outros.
Esta mesma semana, lendo uma revista velha, encontrei um
texto onde o colunista falava sobre sua carreira. Um texto com quarenta e cinco
linhas, em duas colunas onde encontrei cerca de dez a doze vezes a palavra
preconceito.
Sei que só pelo fato de não mencionarmos a palavra
“preconceito” ele deixará de existir, mas, me pergunto se ao falarmos tanto
dele não estaremos alimentando-o?
Há alguns anos atrás, seguia para um comício na Candelária
em companhia de um colega de trabalho. Chegamos cedo, ficamos conversando
durante longo tempo. Um tempo depois chega um grupo de negros de um movimento
qualquer que não me recordo qual, se acercaram de nós. Um dos rapazes conhecia
meu colega, também negro. Cumprimentaram-se: irmão pra cá, irmão pra lá,
passaram a conversar, me deixando de lado. Por mais que tentasse me enturmar
não consegui. Ignoraram minha presença até se afastarem por completo, me
deixando sozinho.
De que lado estava o preconceito?
Claro que isso não me afetou e nem me afeta até hoje, muito
pelo contrário, me alerta para a massificação da idéia “preconceito” na nossa
sociedade.
Aqueles que vêem na posse do Ministro algo de
extraordinário, que alardeiam sua singularidade pelo fato dele ser negro, em
minha opinião, estão alimentando uma diferença que já não deveria existir. Esquecem
eles de dizer que o ilustre Juiz não precisou de cotas para chegar até onde
chegou. Que lutou por sua carreira como qualquer cidadão que não possui
recursos. Superou dificuldades, venceu.
Sua negritude não o impediu de chegar ao topo de sua carreira.
Essa é a luta do pobre, do povão, de todo aqueles que não
nasceram privilegiados pela vida.
Chamar de negão pode ser ofensivo tanto quanto chamar de
loura. Mas pode ser também elogio tanto quanto chamar de louraça. Depende de
quem e quando o faz.
Vamos falar menos e educar mais, assim seremos todos iguais
perante a lei, a sociedade e perante nós mesmos.
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