Preliminares
A minha intenção é colocar neste espaço um pouco de tudo. Da experiência ao sonho, da realidade ao imaginário. Tudo que for útil e inútil mas que faça algum sentido. Mesmo que o sentido não faça sentido algum. Uma perfeita quitanda, onde encontra-se, sempre, um pouquinho de cada coisa.
Um comentário:
Mea culpa ou estórias da minha aldeia
Saudades de mim. De quem? De mim. Sim, ouviste bem. Mas de quê? Da jovem acanhada, melindrada com tudo e todos… ? O que será que dizem de mim? O que será que pensam de mim? Quando passo na rua o que ficam a cochichar… as velhas sentadas nos poiais das suas casitas, os trintões desocupados encostados, com os jeans já gastos de tanto roçar no banco – sempre o mesmo, claro quando não ocupado pelos reformados que também ali passam horas a cortar na casaca de quem passa e quem não passa, mas que acaba por estar sempre à baila em conversa de banco ou de café. O que dirão de mim? “Pobre coitada, mal amada”, “Tão nova e com um filho nos braços de um drogado”, “Ela é que é a culpada. Tinha um marido tão bom e largou-o”. “Ouvi dizer que ela fez o mesmo com o pai. Trocou o marido por outro, tal como o pai trocou a mulher por outra. Coitada da ‘voninha”, “Com uma filha assim…. É de se jogar as mãos à cabeça”….”Ah! não digam isso. Ela até é boa rapariguinha. Tirou o seu curso, arranjou emprego, não tem é sorte no amor coitada”, “Qual coitada, qual quê! Ela gosta é de andar com todos. Até parece que gosta de ser falada”… “Lá tão vocês a dizer mal da rapariga. Vi-a crescer aqui nesta rua, na casa das avós. Ainda me lembro quando vinha comprar rajás ao ti Paulino!”
Até parece que os oiço, na sua conversa tipicamente e orgulhosamente moiteira. Sim orgulham-se disso – de terem sempre assunto para falar, ou não bastasse as conversas sobre o campo do moitense e agora, bem mais recente, a requalificação do “seu” espaço – o largo da república.
“Esta obra não tem jeiteira nenhuma. Onde é que agora uma pessoa estaciona o carro?” Esta é uma das muitas questões levantadas pelos “não estou para trabalhar”, em ano de eleições autárquicas lá vai o “lobo” sair penalizado… ou talvez, não quem sabe…
Mas da minha vida sei eu e não estou para me preocupar nem sequer questionar a dos outros. Quem dera ter soluções para os meus problemas, mais que muitos até, que me tiram com uma facilidade incrível o sorriso, o leve sorriso que consigo esboçar, da face. Quem disse que eram só facilidades nesta vida. Julgava eu que assim fosse. “A vida não é como no cinema. Não é um filme”. Já me disseram isto repetidas vezes, como uma cassete que toca num rádio a pilhas, mas que o som já sai tão amórfico por a bateria estar tão gasta.
Encontrar-me por acaso. Sim gostava de me encontrar por mero acaso. “Olá! Há quanto tempo”, “sim, para mais de quê… deixa ver… dez anos, qualquer coisa como dez ano”, “É provável. Mas continuas na mesma”, “Não digas isso. Tenho um filho com cinco anos e acabei por me tornar uma funcionária pública”, “o quê, então e o jornalismo. Era o que querias, não era?”, “era mas, sabes como as coisas são. Fui mãe muito nova, quis sair de casa, fui para Lisboa. Ainda tive lá uns anitos. Quis ter independência e olha no que me tornei. A pessoa mais dependente dos outros que conheço.” “Mas casaste?”, “Casei e já descasei. E o meu filho é de outro, não é do meu ex…. confuso, não?”, “é preciso é que haja saúde e que o dinheiro não falta”, “esse é outro dos meus problemas. Dizem que ganho bem. Ok, poderia ser pior. Mas o dinheiro não me chega para tudo. Aliás, para nada porque acabo por não ter nada.”
Mas o que é que estou para aqui a dizer?????!!!!!!. Que estupidez. Trabalha sua estúpida e deixa de ser tão melodramática (outra expressão que estou farta de ouvir). Ri-te, sorri, ficas tão linda a sorrir….. gostava que assim fosse mas não consigo. O que é que tenho caramba? Onde estou? Que cansada me sinto. De quê? De tudo? Porquê? Por tudo e por nada. Que vida vazia. É só ver os dias passarem e nada de útil, nada que me preencha. Penso que prefiro ficar em casa. Pelo menos não gasto dinheiro, pelo menos não me canso de fazer nada, nem do trabalho que é pôr o pé do lado de lá da porta. Apetece-me dormir. Passar dias inteiros a dormir, aconchegada nos meus lençóis, com a cabeça na minha almofada. Fazer de conta que sou outra pessoa, que o mundo lá fora nada me diz, porque não pertenço à roda viva do dia-a-dia fatigante sem me dar nada em troca. Nem um estúpido sorriso. Estava tão bem. Sentia-me tão bem. O que aconteceu? Onde está a minha confiança, o meu optimismo. Tenho a impressão que ambos foram na descarga do autoclismo na manhã de ontem…. Porra, que estúpida vida e que estúpidos pensamentos. Nem parece que tenho uma vida cheia de amor, de amigos, de abundância… que nada me falta. Ah! Ah! Ah! Que gargalhada sonora soltava agora… já nem me sinto sozinha, é engraçado. Se antes o meu problema era a solidão e se agora, nesta outra fase, da qual? Deixa-me ver…. Milésima terceira, do “casa/descasa” – agora definitivamente – divorciada assumida só para algumas pessoas – poucas diga-se de passagem...
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