Já se vão 50 anos e ainda me lembro com clareza desse
momento. Os dias que antecederam ao golpe de 64 estavam tensos. Lá em casa se comentava o comício da Central
e já se tinha idéia do quanto isso havia mexido com a chamada elite.
Embora com 13 para 14 anos, já entendia o que se passava. A
política sempre foi um prato servido lá em casa.
A casa seis sempre foi palco de algum acontecimento. Contava
minha mãe, que na década de quarenta, meu pai reunia lá, os defensores do
petróleo. De lá saiam para pichar e colar cartazes nos muros da Cidade. Muitos
foram presos. Todos correram da polícia. Mas “O Petróleo é nosso!”
Ganhamos!
Meu pai já não estava mais lá, haviam se separado. Mas o
cheiro de política ainda permanecia.
Ao final de março o clima já estava quente.
O rádio, que sempre foi minha paixão, só era ouvido em ondas
curtas. Queria saber o que acontecia pelo restante do País. No dia 31 de março,
soubemos que as tropas mineiras marchavam em direção ao Rio de Janeiro. Dessa
vez, a reunião para ouvir as notícias, foi na casa quatro. Lá morava um casal
de senhores, uma filha e dois netos.
Tanto em casa, quanto na casa do “seu Pinheiro”,
acompanhávamos os discursos de Brizola, pedindo para que resistíssemos, para
que o povo fosse para as ruas defender a legalidade. Não deu. Não havia ônibus.
Não havia como.
No dia seguinte o golpe havia sido dado.
Colados ao rádio, ouvimos a notícia da deposição de Jango.
- Perdemos! Exclamou Iamara, a neta mais nova do seu
Pinheiro.
Perdemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário