Quanto eu tinha uns cinco ou seis anos, meu pai comprou um
projetor de 16mm, da marca Victor.
Quem é da minha época de infância irá se lembrar das
tardes/noites de sessão de cinema na Vila.
Filmes alugados a Embaixada Americana. Naquela época não
tinha locadoras e eram as embaixadas que faziam a divulgação de seus filmes.
Em dia de sessão, um lençol era preso na parede da casa vizinha
a vila, em frente à casa três, onde era colocado o projetor, para dar a
distância suficiente.
A garotada sentava no chão para curtir a exibição dos
desenhos animados. Gato Félix, Alice no País das Maravilhas, comédias do Gordo
e o Magro, Abbott & Costello
e muitos outros.
Tinha gente que passava pela rua, via o movimento na vila e
entrava para desfrutar dessa sessão de cinema familiar.
Esses mesmos filmes que eram exibidos para nós, meu pai e
minha mãe exibiam, também, para comunidades carentes. Subiam os morros do Rio
e, faziam o mesmo que faziam na vila. Algumas vezes, estava eu junto a eles
nessas empreitadas. Eram tempos em que não havia violência e, sempre eram
acolhidos com respeito e carinho.
Esse, certamente, foi o meu primeiro contato com a realidade
da vida. Com a pobreza e com a generosidade, tanto de meus pais como das
pessoas que eram brindadas com aquele agrado.
Muito pouca coisa diante do que era necessário, mas dava
para ver o quanto era importante para aquelas pessoas aquele momento de
carinho.
Não me tornei nenhum santo, nem cheguei perto disso, mas,
consegui ao longo de minha vida, entender o que as pessoas que não tem nada, ou
quase nada, sentem quando lhes oferecem um pouco que seja.
Enquanto batemos boca, pessoas como nós estão precisando de
atenção.
Enquanto discutimos se devemos construir hospitais e
contratar médicos ou, contratar médicos e depois construir hospitais, a diarreia
está matando.
Enquanto acharmos que a estrutura é maior do que o ser
humano, não chegaremos a lugar algum.
Enquanto ficarmos procurando quem é o responsável em tomar
atitude ou quem deixou de tomá-las, muita gente irá morrer.
Precisamos agir mais e falar menos.
Precisamos olhar para dentro de nós e, encarar o que
precisamos e devemos fazer.
A fome não espera, a vida não espera.
A retórica só acalenta aqueles que se acham poderosos. Não
resolve problema de quem os tem.
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